quarta-feira, 9 de março de 2011

Quero ordem, quero caos

Por Karina Lubascher Miragaia

Há muito estou enjoada desse texto. Não como aborrecimento, é enjôo como náusea mesmo. Acho que idéias são assim, você tem que passar mal delas até colocar tudo pra fora, igual em virose.

“Sobre o que é?!”.  Sobre nada, sobre exatamente nada. Sobre tudo. Não me perguntem sobre o que é! Não quero escrever sobre nada, sobre nada que faça sentido. Quero o caos, quero a desconstrução. Mais, quero a inutilidade. Terrível mania essa a de só dar valor ao que faz sentido. De dar valor ao que é útil. O direito ao caos nos foi tirado! Me foi tirado! Quero um texto sem sentido. Quero uma conversa sem sentido. Quero um livro sem utilidade, um beijo desnecessário, é o que eu quero. Não quero mais o peso da utilidade. Não quero fazer sentido. Não quero dizer nada. A vida não quer dizer nada. Quer dizer o que? Nada. O que é o sentido? Não quero mais saber. Perguntar. Eu quero perguntas. Minha defesa é a indagação! Eu quero o caos. Mais além, consciência. Quero consciência do caos, do caos interno, do caos do mundo. Sem conserto, ele não tem conserto. Me faz respirar aliviada. Gosto de não saber. De não entender. Não quero saber o próximo passo. Não quero saber que rumo tomar. “Não saber para onde vais é saber exatamente para onde vais”. Chorar. Quero rir, quero ser triste. Pra que? Quero o óbvio. Quero o nada. Quero o inútil proposital. A tomada de consciência do óbvio encontra-se nos antípodas de toda ingenuidade...”. Quero a essência. Quero o problema. Quero a clareza da pergunta. Quero um texto sem introdução, quero frases sem ordem, não quero conclusões extraordinárias, não quero conclusões. Quero excesso de pontos finais. Não quero sintaxe, não quero parágrafos. Não quero revisar meus textos. Quero textos. Não quero acrescentar, não quero mudar. Não gosto que tentes entender tudo, o tempo todo. Não quero o todo, não quero o tempo. Não gosto de entender. É alívio. É angústia. Gosto do paradoxo. Quero a transparência. Clareza. É nisso que se define o bom pensar, entender o problema. Entender que há um problema. Conviver com o problema. Faz parte de mim, não há respostas. Não gosto de respostas. Quero fracassos. “Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar. Eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor”. Quero amor. Quero você. Quero a vida. Quero você sem sentido. Mais, sem utilidade, sem rimas, sem sinônimos. Amor, sem sentido. Não quero ser útil eu também. Você não serve pra nada! Te amo porque não serves. Você não me completa, não quero ser completa. Você me acompanha. Não existe tal coisa como o “completo”. Desajuste, insuficiência, confusão. Não quero Te entender. Quero a Tua falta. “Teu entendimento torna-me insensato”. Gosto do sozinho, do simples. Complexidade é o eu quero. Silêncio. Ah, o silêncio... Stop making sense, é o que eu grito. Vômitos não fazem sentido.

Sentido. Tudo faz sentido. Não interrompes a vida porque, num instante, ela fez sentido. A busca por sentido me caracteriza. Caracteriza a humanidade. A busca. O olhar, o toque, o beijo, a lágrima, me fazem sentido. Tu és sentido. Quero suspirar por aquilo que me faz sentido. O homem, a vida, a alma, tudo num meio caminho entre o completo caos e o completo sentido. Sentido, é isso. Quero a repetição de palavras, quero o novo. Quero achar meu sentido no caos. A ordem me prende à vida, me faz continuar. Quero viver. Achar o meu caminho. Quero a Tua verdade. Quero o certo, quero ser errado.  Caos, é isso. Quero caos no meu sentido. O caos me liberta. Quero a ordem e quero o caos. “Palavras e sentido... a vida está aí”. Palavras. Ah, as palavras... Eu me calo. Vomito. “Falta de sentido, a vida também está aí...”.